O tipo de coisa que faz a sua mãe ficar gostosa.

Aqui é Santo Antonium

Oldballs and old possessions

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009 by Santo

Eu não sei por que deixei Fernando entrar. Eu poderia tê-lo impedido, mas aí ele forçou a entrada, tão imponente, montado em sua moto. Aposto que minha mãe nem percebeu, porque àquela altura ela já não era mais minha mãe e estava mais preocupada com o sangue do mercado mobiliário. Mas Fernando era Fernando e aquilo me apavorava. Ele tinha um sorriso demoníaco, o que me atraía de certa forma. As pessoas ao lado começaram a sussurrar umas para as outras que ele era doente e que não deveríamos contrariá-lo. Para elas, ele era um tanto desagradável mesmo. Mas pra mim, era adorável. Talvez porque eu seja doente ou esteja com Síndrome de Estocolmo. Ele era mau, me tinha no controle e eu gostava disso.

Fernando já havia me visitado outras vezes, mas agora ele estava com um rosto novo. Ele disse que tinha comprado faz pouco tempo, e eu comentei que era bem melhor que o anterior. Naquele dia, as coisas estavam tão fora de controle que até Fernando se surpreendeu. Antigamente, a idéia de ele trocar sempre de rosto me assustava. Mas ele insistia que eu não deveria ter medo, porque eu sempre saberia que era ele, mesmo se não houvesse um rosto. E ele tinha razão. Moldes não fazem mal, e até a Paris Hilton pode ser legal. Mas, espera... Ela é legal!

“Eu sou um oldball.” Isso é o que Fernando diz pra mim e o que eu tento dizer pra mim mesmo. É mais vantajoso ser um oldball. Oldballs crescem e ficam cabeludos, além de virem sempre em pares. Ao contrário das pessoas possuídas. Os últimos anos só serviram pra eu me dar conta de que as caretas que o Sr. Bolha fazia não eram só feias. Elas eram diabólicas. E que o Sr. Bolha poderia não só não ser o Sr. Bolha – ele poderia não ser ninguém. Só um monte de plástico e enchimento. Eu fico triste e assustado quando percebo que não existe mais segurança em uma casa. Você pode incentivar um oldball, mas não pode controlar possessões. Ainda dá pra tomar sorvete, é verdade. Se todos usarmos supositórios de cristal. Mas é o que Fernando quer tirar de mim, e eu tenho que amá-lo por isso.

Sobre camarões brancos

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009 by Santo

Camarão costuma não me fazer bem. Sonhar com camarões já é outra história. As coisas mudam totalmente de figura quando você se pergunta o que fazer quando seu filho acha que o mundo vai acabar antes do próximo aniversário dele. O meu filho tem medo de que eu morra e deixe ele sozinho no mundo acabado, mas eu insisto em dizer que isso não vai acontecer logo. Ele gosta de camarão, aliás.

Eu tenho medo de edema de glote, por mais que isso me soe bem. É tão gostoso, “edema de glote”. Mas mais gostoso é quando eu tô numa outra dimensão e o camarão branco é o que me faz chegar lá. Eu poderia pedir pra você pensar num clitóris anal em forma de camarão branco. Pense em masturbar o camarão. Não é que eu queira ficar me repetindo, até porque eu odeio isso, mas esse camarão é tão fucking poderoso e hipersensível que se você o tocar, o negócio vem todo. Limpa tudo e suja tudo.

Obsessão punk

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009 by Santo

Que é só um dedo meio decepado.

Eu sempre quis começar um raciocínio assim, desde que Gilce’s Milk S.A. propagou que era coisa de gente retardada. Mas eu não quero entrar nisso, porque não faz nem dois meses que eu reencontrei toda a horda de lesbian vampire killers que tomava conta de mim até eu começar a cheirar e injetar. Brincadeira. Elas não eram lésbicas.

Acho que tô naqueles dias de achar o zeitgeistismo todo muito bonitinho e ver gente de todas as cores e sabores gozando purpurina. Fico adorando gerundismo, aliás. Isso só acontece quando eu tô bem o suficiente pra lavar louça e fazer faxina, o que é muito raro. O motivo é óbvio: gangrena. Como um hottie como eu não pode ficar feliz com essa pré-disposição cadavérica pro amor? É, eu disse “amor”. É praticamente o elixir da sensualidade eterna. Foi assim que Margarida conseguiu ser tão brilhante, uma autêntica vaca do século XXI. Henrique foi só um tapado zeitgeistista (a-há!) que totalmente representa o que você quer ser quando crescer. Porque disco sucks, punk is dead. E o rock é tão motivo digno de viver quanto uma trégua pra ajuda humanitária. Eu sei que é difícil.

É com essa coisa fantástica de ser normal que eu vou amar alguém e deixar de cagar tanto pelo cool alheio. É um bom sonho, pelo menos.

Zumbis e lobisomens travestis

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009 by Santo

As coisas começam a ficar complicadas quando você resolve fazer parte das situações alheias. Especialmente quando você acha que elas deveriam ser suas. Isso é algo que tem me incomodado, porque eu descobri que uma pessoa maravilhosa está correndo um grande perigo. Não sei se eu gostaria de estar no lugar dela ou se eu deveria me punir por me achar o culpado dessa situação. Ou talvez eu pudesse tentar salvá-la.

Você percebe a complicação de uma situação dessas quando o chefe entra sem avisar, sendo que antes ele nem se preocupava em entrar. Quando as dívidas são tão maiores do que você imagina, que o cobrador desbloqueia a linha bloqueada só pra te cobrar. Crédito negativo. É desse tipo de perigo que eu falo.

E aí eu tento fugir, fingindo estar congelando nesse sol infernal que faz aqui. A resistência é tão grande, que se me colocarem pra, sei lá, cortar e carregar madeira, eu não derramaria uma gota de suor. Meu pai pelo menos quebra pata de aranha, mas isso é outra história. Agora, a verdade se impõe como a morte, e se eu quiser continuar com a imponência que um relógio e uma xícara de café ainda me dão, tenho que fazer um pacto com ela. Talvez eu possa matar uma pessoa maravilhosa. E depois virar ventríloquo. Mas não é isso que eu vou fazer.

Nesse sol, eu tenho espaço pro congelamento. Tenho espaço pra fofocar, coçar o saco e achar que eu sou um lobisomem travesti. Ou um zumbi.