
Fernando já havia me visitado outras vezes, mas agora ele estava com um rosto novo. Ele disse que tinha comprado faz pouco tempo, e eu comentei que era bem melhor que o anterior. Naquele dia, as coisas estavam tão fora de controle que até Fernando se surpreendeu. Antigamente, a idéia de ele trocar sempre de rosto me assustava. Mas ele insistia que eu não deveria ter medo, porque eu sempre saberia que era ele, mesmo se não houvesse um rosto. E ele tinha razão. Moldes não fazem mal, e até a Paris Hilton pode ser legal. Mas, espera... Ela é legal!
“Eu sou um oldball.” Isso é o que Fernando diz pra mim e o que eu tento dizer pra mim mesmo. É mais vantajoso ser um oldball. Oldballs crescem e ficam cabeludos, além de virem sempre em pares. Ao contrário das pessoas possuídas. Os últimos anos só serviram pra eu me dar conta de que as caretas que o Sr. Bolha fazia não eram só feias. Elas eram diabólicas. E que o Sr. Bolha poderia não só não ser o Sr. Bolha – ele poderia não ser ninguém. Só um monte de plástico e enchimento. Eu fico triste e assustado quando percebo que não existe mais segurança em uma casa. Você pode incentivar um oldball, mas não pode controlar possessões. Ainda dá pra tomar sorvete, é verdade. Se todos usarmos supositórios de cristal. Mas é o que Fernando quer tirar de mim, e eu tenho que amá-lo por isso.